Artigo

Qual o propósito da humanidade?

Qual o propósito da humanidade?

“A razão da vida é fazer mais vida. A razão da vida é trazer mais vida para tudo o que é para tornar o universo cada vez mais vivo. A vida está se desdobrando cada vez mais. E o ponto — e este é apenas um modo de ver as coisas — é fazer parte do crescente florescimento da vida.” — Charles Eisenstein

Dominar a matéria e rebaixar a natureza?

“O mundo não é um problema a ser resolvido; é um ser vivo ao qual pertencemos. O mundo é parte de nós mesmos e nós somos parte de sua totalidade de sofrimento. Até chegarmos à raiz de nossa imagem de separação, não pode haver cura. E a parte mais profunda de nossa separação da criação está em nosso esquecimento de sua natureza sagrada que também é nossa própria natureza sagrada. — Llewellyn Vaughan-Lee

Fomos acostumados a acreditar que o papel da humanidade sobre a Terra era explorar essa fonte supostamente infindável de recursos. Acreditamos que deveríamos nos distanciar da natureza para nos aproximarmos da cultura cuja expressão maior seria o desenvolvimento industrial e tecnológico. Ao explorar e dominar a natureza ficaríamos imunes aos seus riscos e desfrutaríamos de segurança e conforto.

Isso foi cientificamente justificado pelo paradigma materialista que entendeu o big bang como acidente e a existência humana como acaso legitimando a crença de que, por sorte da evolução, somos um corpo físico com capacidades cognitivas sofisticadas e, por isso, superiores a tudo.

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Da história da separação à história do interser

Da história da separação à história do interser

“O mundo hoje, globalizado, tecnocrático, pragmático e vertiginoso, sofre de uma sequência acumulada de crises cada vez mais agudas que, no fundo, são a expressão de uma crise geral ou estrutural, uma crise de civilização.” — Victor Toledo e Narciso Barrera-Bassols

Da sociedade de crescimento industrial à sociedade que sustenta a vida, do Antropoceno ao Ecozóico, da consciência ego-sistêmica à consciência eco-sistêmica… Através de todas essas formas de contar a história da transição que vivemos hoje vemos a necessidade de superação da história da separação pela história do interser.

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O que é a vida? — Uma comunidade regenerativa

O que é a vida? — Uma comunidade regenerativa

Escrito por Daniel Christian Wahl e traduzido por Felipe Tavares.

A vida — como um processo planetário — é uma comunidade regenerativa! Nas palavras de Janine Benyus: “A vida cria condições propícias ​​à vida”.

Para mim, a palavra “regenerativo” refere-se à capacidade inerente da vida de expressar a essência única de cada lugar através de diversidade elegantemente adaptada. Essa diversidade não apenas muda constantemente e evolui para níveis mais altos de complexidade e colaboração, como também contribui para tornar o local mais abundante, vibrante e favorável a mais vida ao longo do tempo.

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Da consciência ego-sistêmica à consciência eco-sistêmica

Da consciência ego-sistêmica à consciência eco-sistêmica

“No estado presente das coisas, a sobrevivência da humanidade depende de que as pessoas desenvolvam uma preocupação sincera com toda a humanidade e não apenas com sua própria comunidade ou nação. A realidade da nossa situação nos impele a agir e a pensar com mais clareza. A mentalidade estreita e o pensamento autocentrado podem ter nos servido bem no passado, mas hoje só poderá nos levar ao desastre.” — Joanna Macy

Otto Scharmer, professor titular do Instituto de Tecnologia de Massachusetts e co-fundador do Presencing Institute, também entende que vivemos um processo de transição de histórias e de consciências. Para ele, é fundamental e inevitável a aceleração de mudanças de paradigma e, mais profundamente, a mudança de uma consciência ego-sistêmica para uma consciência eco-sistêmica.

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Do Antropoceno ao Ecozóico

Do Antropoceno ao Ecozóico

A grande obra de cada tempo histórico

“Todos nós temos nosso trabalho particular. Temos uma variedade de ocupações. Mas além do trabalho que desempenhamos e da vida que levamos, temos uma Grande Obra na qual todos estamos envolvidos e da qual ninguém está isento: é a obra de deixar uma Era Cenozóica terminal e ingressar na nova Era Ecozóica na história do planeta Terra.” —  Thomas Berry

Para Thomas Berry, acadêmico da Terra como gostava de ser chamado, cada época histórica tem a sua grande obra. A grande obra do Paleolítico foi a expansão humana a partir da África. Este processo esteve associado à criação de linguagem, rituais e estruturas sociais pelas comunidades caçadoras-coletoras. A grande obra do Neolítico foi o estabelecimento de comunidades agrícolas em territórios socioecológicos cujas paisagens foram manejadas através da prática extrativista e agrícola. 

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A Grande Virada

A Grande Virada

“A característica mais marcante deste momento histórico não é que estamos a caminho de destruir nosso mundo — na verdade, estamos neste caminho há algum tempo — mas que estamos começando a despertar de um sono de milênios para um relacionamento totalmente novo com o nosso mundo, com nós mesmos e com os outros.” — Joanna Macy

A sociedade de crescimento industrial

A sociedade de crescimento industrial fez das pessoas engrenagens na roda da produção e do consumo e está devastando os recursos limitados da natureza. Ela nos isolou do mundo natural e nos fez perder a percepção de nossa conexão com todos os seres.

Mais ainda, ela nos fez esquecer que nós somos a própria Terra tomando consciência de si mesma. A visão analítica e mecânica característica dessa sociedade obscureceu a visão holística e orgânica dos fenômenos impedindo-nos de ver a vasta e complexa rede de relações interdependentes de todos com tudo.

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Entre histórias

Entre histórias

“É tudo uma questão de histórias. Nós estamos em problemas agora porque não temos uma boa história. Nós estamos entre histórias. A velha história, e a forma como nos encaixamos nela, não é mais efetiva. Mas nós ainda não aprendemos a nova história.” — Thomas Berry

Sabemos que abaixo dos sintomas do mundo — da violência assistida contra a natureza, o outro e nós mesmos — há estruturas de organização, paradigmas de pensamento e estados de consciência particulares. Essa dimensão oculta do iceberg abarca as narrativas e histórias que nos orientam no mundo. Nós as reproduzimos inconscientemente e nos movemos através das crenças, valores e visão de mundo que elas informam e que nos foram introjetados desde que nascemos.

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O mundo como um iceberg

O mundo como um iceberg

“A primeira condição para modificar a realidade consiste em conhecê-la.” — Eduardo Galeano

Toda e qualquer mudança começa com a investigação das questões estruturais e dos paradigmas de pensamento mais profundos que nos fazem colocar em cena, repetidamente, os mesmos problemas.

Enquanto humanidade nós temos grandes problemas:

  • Uma pegada ecológica de 1,5 planetas;
  • 3,4 bilhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza;
  • 8 bilionários com a riqueza equivalente de 3,6 bilhões de pessoas;
  • O 1% mais abastado da população mundial equivalente à riqueza dos 99% restantes;
  • 300 milhões de pessoas acometidas por depressão;
  • 883 mil suicídios a cada ano;
  • Mais pessoas se matando do que mortas em assassinatos, guerras e desastres naturais.

Ninguém está acordando de manhã e se preparando para mais um dia de destruição da natureza, de violência contra outras pessoas e querendo aumentar seu próprio nível de infelicidade. Mas é exatamente isso que estamos fazendo.

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A separação espiritual ou psicológica

A separação espiritual ou psicológica

Por todo o mundo as pessoas concordam que a civilização moderna está falida e que enfrentamos enormes desafios que nos exigem uma profunda mudança pessoal e social. Provavelmente não concordamos em relação às soluções, mas concordamos sobre os problemas. Podemos resumir os problemas do mundo em três cenários: a separação ecológica, a separação social e a separação espiritual ou psicológica¹.

A separação espiritual ou psicológica

Enquanto a separação ecológica trata da desconexão entre o “eu” e a “natureza” e a separação social da desconexão entre o “eu” e o “outro”, a separação espiritual ou psicológica diz respeito à desconexão entre o “eu” e o “Eu” — entre quem eu sou hoje e quem eu posso ser amanhã. O “eu” representa também o nosso “eu limitado” enquanto o “Eu” trata do “eu potencial”. 

A desconexão entre esses dois “eus” resulta na intensificação de sintomas de stress, esgotamento, ansiedade, depressão e até risco de suicídio. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a depressão é um transtorno comum em todo o mundo atingindo mais de 300 milhões de pessoas pelo globo. Diferente de uma tristeza transitória, ela é uma doença psiquiátrica crônica e recorrente caracterizada por alteração de humor associada a sentimentos de amargura, desencanto, desesperança, baixa autoestima e culpa. 

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A separação social

A separação social

Por todo o mundo as pessoas concordam que a civilização moderna está falida e que enfrentamos enormes desafios que nos exigem uma profunda mudança pessoal e social. Provavelmente não concordamos em relação às soluções, mas concordamos sobre os problemas. Podemos resumir os problemas do mundo em três cenários: a separação ecológica, a separação social e a separação espiritual ou psicológica¹.

A separação social

A separação social é bem conhecida por todos nós. Invariavelmente nos deparamos com as suas consequências em nosso cotidiano. Ela diz respeito aos níveis crescentes de desigualdade, injustiça e tensões sociais.

Enquanto 1,5 é o número que define a separação ecológica porque representa a pegada ecológica da humanidade no planeta, 8 é um dos números que define a separação social. Hoje, 8 bilionários possuem tanta riqueza quanto as 3,6 bilhões de pessoas que compõem a metade mais pobre do planeta. Também é verdade que a riqueza acumulada pelo 1% mais abastado da população mundial equivale à riqueza dos 99% restantes. Estes números são parte de um relatório da Oxfam — ONG britânica anti-pobreza — baseado em dados da revista de negócios Forbes e no relatório do banco Credit Suisse sobre distribuição da riqueza global. 

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