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Distúrbio generativo

Distúrbio generativo

De modo geral, somos avessos às perturbações em nosso cotidiano. Procuramos, na maioria das vezes, um caminho seguro e conhecido sem que haja grandes mudanças.

Acontece que a principal força evolutiva em sistemas vivos são os distúrbios.

Segundo a Teoria da Cognição de Santiago, sistemas vivos respondem a distúrbios com mudanças estruturais, isto é, mudanças na estrutura física, cerebral, celular… e o faz de forma a “escolher” quais distúrbios responder e como responder.

Uma floresta sem distúrbios está fadada ao declínio. Em um ecossistema, o único equilíbrio que existe é o equilíbrio dinâmico que incorpora as mudanças como eventos capazes de promover a evolução.

Assim, para alinhar a nossa mentalidade com a inteligência da vida podemos começar fazendo as pazes com os distúrbios — com os eventos de caos e destruição — e entendê-los como uma força natural necessária ao equilíbrio dinâmico evolutivo.

Aquele evento que não estávamos esperando, o desaparecimento de algo que nos dava a sensação de segurança ou mudanças forçadas repentinas e totais podem ser eventos capazes de gerar mudanças evolutivas.

Talvez não seja possível escolher se queremos ou não responder a um evento, mas sempre será possível escolher como responder. Qual aprendizado é possível incorporar a partir disso? Como isso pode me aprimorar ou como este evento pode me levar a novos rumos?

O Brasil vive hoje um grande e profundo distúrbio estrutural, uma afronta inimaginável aos rumos de um país pautado no respeito, inteligência e integralidade. Um desrespeito à sua própria história.

Diante disso estamos escolhendo responder de que forma?

Desejo que este momento faça florescer em nós a vontade e consistência necessária para trabalharmos as nossas habilidades enquanto agentes de mudança, empreendedores ecossociais, estrategistas organizacionais, guerreiros da sustentabilidade, líderes compassivos… ou seja, a nossa capacidade para a liderança regenerativa.

Desejo que cada um de nós possa começar a construir ou ampliar o seu legado conectado ao seu senso de propósito mais energizante. Agora.

Foto: Ryan Loughlin

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Design de culturas regenerativas

Design de culturas regenerativas

Daniel Wahl, autor de Design de Culturas Regenerativas, estará no Brasil em Março para uma série de palestras e cursos e para o lançamento do seu livro em edição brasileira. Abaixo segue a resenha do livro.

Há cinquenta anos a humanidade foi presenteada com a primeira foto da Terra tirada da órbita lunar, o nascer-da-terra ou earthrise. Esta imagem — a Terra flutuando no vazio negro do espaço — mudou para sempre a perspectiva de como a enxergamos e de como nos enxergamos nela. Foi o primeiro momento em que pudemos coletivamente nos afastar e ter uma visão ampla o suficiente para perceber que estamos todos habitando um mesmo barco, a espaçonave Gaia.

Hoje, cinquenta anos depois, ainda temos dificuldade em assimilar o que significa e o que requer de nós morar em uma mesma casa flutuante. Precisamos nos afastar ainda mais. É necessário realizarmos uma perspectiva ecofilosófica capaz de perceber o significado de sermos humanos e habitantes de Gaia.

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O espectador, o participante e o salto mortal

O espectador, o participante e o salto mortal

O espectador é aquela pessoa que assiste ao mundo desenrolar na sua frente. Ela sobe no barco, mas nunca assume o leme. Ela está à mercê do sistema. Está à deriva.

Já o participante jamais se deixa levar. Esta pessoa possui uma direção clara e fará os ajustes necessários para seguir no sentido da sua visão. Ela participa ativamente na criação do mundo.
Passar de espectador para participante exige um salto.

É como subir no trampolim de dez metros e ficar paralisado pelo medo. O medo de que algo possa dar errado, o medo de ferir a própria existência.

E então ter a coragem de reconhecer que esse medo não possui lastro e que o perigo é o medo que me bloqueia.

E então o salto. E outro, e outro.

Para nos tornarmos participantes precisamos nos acostumar a saltar no vazio. A encarar o medo e fazer as pazes com a incerteza.

Foto: Johannes Plenio

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A nova zona de segurança

A nova zona de segurança

Conformidade, padrão e regras estabelecidas, ou seja, o jogo do trabalho convencional, costumava ser a nossa zona de segurança e ao mesmo tempo a nossa zona de conforto.

É confortável a sensação de segurança e de certeza, mas estar confortavelmente dormente ao ocupar um papel substituível não é mais seguro.

Apesar da nossa zona de conforto ser a mesma, a nossa zona de segurança mudou.

Vivemos em um mundo em que a conformidade não é mais recompensada. A sociedade, hoje, na economia da conexão, valoriza aquelas pessoas corajosas capazes de fazer um trabalho surpreendente.

A zona de segurança, então, está na capacidade de surpreender. Está na capacidade de fazer um trabalho significativo e em criar conexão.

É preciso sair da zona de conforto para entrar na nova zona de segurança. Você pode fazer diferente e pode fazer melhor do que sempre fizeram.

Você é capaz, com o seu coração e com toda a sua coragem, de fazer algo surpreendentemente significativo que irá mudar o jeito como as coisas são feitas. Algo mais generoso, mais humano, mais atento e mais profundo.

Com intenção e coragem podemos transformar os nossos projetos e o nosso trabalho em legados para a sociedade, em contribuições significativas que são essenciais para a vitalidade do nosso local de interação.

Nessa jornada precisamos de duas coisas. De uma mentalidade de aprendizagem por toda a vida e de uma comunidade de apoio.

Juntos, podemos nos tornar indispensáveis e insubstituíveis.

Uma boa avaliação que podemos fazer é nos perguntar: se eu me retirar agora quem verdadeiramente sentirá a minha falta?

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Projetos que se tornam legados

Projetos que se tornam legados

Se o seu objetivo é criar um projeto de impacto positivo, não comece pelo projeto em si, comece pelo lugar que ele ocupa.

A sustentabilidade de um sistema vivo está ligada diretamente com a sua integração benéfica com o sistema maior de que faz parte.

Assim, no início de um projeto regenerativo a nossa atenção está toda voltada para o lugar.

Desta forma, a primeira tarefa que temos é uma investigação que nos oriente no entendimento deste lugar.

Quais as suas características únicas, como se dão os seus relacionamentos? Qual a vontade desse lugar? Qual a sua essência, o seu espírito?

Nessa investigação dois conceitos são fundamentais: aninhamento e interdependência.

Estar aninhado significa que existe um padrão de organização de sistemas dentro de sistemas e um interesse mútuo entre esses diferentes níveis baseado nas energias que são trocadas através deles.

Se a saúde de um nível se deteriora a saúde dos demais níveis são afetadas. Perceba como a deterioração dos rins, por exemplo, reflete no corpo todo.

Se nós quisermos criar projetos que são regenerativos então teremos que entender os sistemas que eles estão aninhados pois são estes sistemas que nós iremos regenerar.

Desta perspectiva, o potencial que emerge do lugar advém do relacionamento entre o que torna um lugar único e o valor que esta singularidade pode levar para o sistema maior em que ele está aninhado.

Assim, a busca primordial do desenvolvimento regenerativo é revelar um papel singular que seja capaz de contribuir significativamente para a saúde do lugar em questão.

Desta forma, temos projetos que se tornam indispensáveis para a comunidade de vida local.

Projetos que se tornam legados e fonte de inspiração.

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Somos as histórias que escolhemos viver

Somos as histórias que escolhemos viver

A todo momento ouvimos, fabricamos e contamos histórias. Podemos não perceber, mas essas narrativas — reforçadas dia-a-dia — é o pano de fundo de todas as nossas escolhas.

O primeiro passo para a transformação é resgatar e ouvir essas histórias com novos ouvidos e com uma atenção especial.

Podemos, então, decidir se essas histórias nos servem ou não. Podemos escolher recriar a narrativa que nos orienta.

Qual o nosso papel no mundo? O que é sucesso? O que é importante?

Tudo o que precisamos fazer é escolher as histórias que nos servem, abandonar as que não queremos e recriar a narrativa do nosso futuro.

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Seja insubstituível

Seja insubstituível

Por anos, até mesmo décadas, nossa curiosidade foi abafada nas escolas. Fomos treinados para a conformidade, fomos forçados a caber em uma função pré definida. Nos tornamos facilmente substituíveis.

O mundo precisa de gente singular, de pessoas insubstituíveis, de pessoas que tenham voz e que se importem com uma causa maior do que a si mesmas.

Tornar-se curioso é um processo de cinco-dez-quinze anos onde você começa a encontrar a sua voz e percebe que a coisa mais arriscada a se fazer é jogar o jogo da conformidade, é ser substituível.

Encontrar o seu papel singular é uma tarefa em comunidade, é um ato generoso de doar-se e ser capaz de perceber-se nos outros. É uma experimentação corajosa, é se permitir pertencer e ousar contribuir.

É um processo que daqui há algum tempo você vai desejar ter começado hoje.

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Entendendo a regeneração

Entendendo a regeneração

O primeiro passo para entender a regeneração é reconhecer que a vida se organiza em sistemas aninhados, ou seja, sistemas dentro de sistemas.

Depois é necessário compreender que cada organismo vivo possui um potencial que surge a partir de suas características únicas, de sua essência.

Este potencial, quando trabalhado e revelado, nos informa um papel regenerativo a ser desempenhado.

Este papel reflete uma atividade que permitirá com que o projeto realize uma contribuição única para a saúde e vitalidade do sistema maior em que ele está inserido.

Nesta dança opera o princípio da reciprocidade. Eu contribuo para a saúde do sistema em que estou inserido assim como este contribui diretamente para a minha saúde e prosperidade.

Assim, uma iniciativa é regenerativa a medida em que ela desempenha um papel capaz de contribuir para a vitalidade do sistema em que ela está inserida.

Agora pergunte a si mesmo: qual a contribuição que faço para o sistema de que faço parte?

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Há duas formas de se trabalhar

Há duas formas de se trabalhar

A primeira é gerenciando a entropia. Ou seja, a tentativa de controlar a desordem das coisas.

Naturalmente a vitalidade de um sistema decai com o tempo. Esta abordagem busca manter as coisas operando como estão ao tentar controlar a entropia.

Para tanto, a atenção é voltada para os problemas e gargalos. Onde houver um ponto em deterioração, faça-se um remendo.

A segunda forma de se trabalhar é cultivando a sintropia.

Sintropia é o oposto de entropia. Ou seja, é a capacidade de organização, complexificação e evolução de um sistema.

É o princípio universal dos sistemas vivos que possibilita o desenvolvimento e a evolução.

Trabalhar para a sintropia é dançar com o plano do potencial, das possibilidades do vir a ser.

Assim, podemos nos perguntar: qual potencial está presente que se realizado permitirá o sistema evoluir a ordens maiores de organização? Este problema é resultado de qual potencial não desenvolvido?

Focar na resolução de problemas é como andar para frente só que olhando para trás.

Focar no potencial é utilizar os problemas como ponto de alavancagem para um futuro melhor.

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Seja a resistência

Seja a resistência

Ser a resistência é se recusar a aceitar ou consentir com hábitos, práticas e ideologias perigosas. É se lembrar de defender o óbvio e não normalizar o absurdo.

Ser a resistência é se opor a ideia de que o planeta e todas as espécies servem às vontades dos seres humanos. É desafiar o uso utilitarista da natureza e reconhecer os direitos da Terra e de todos os seres.

É rejeitar o consumismo e a idéia absurda de crescimento industrial infinito. É se opor ao vício de poder, ao assalto à democracia e a afronta aos direitos das minorias.

Ser a resistência é se opor a objetificação da mulher, ao racismo e à exploração de pessoas. É lutar por uma sociedade de igualdade e de direitos.

É rechaçar duramente o lucro com as guerras, com as doenças, com a fome e os desastres. É ir contra o oportunismo amoral da indústria armamentista, farmacêutica e de alimentos.

É se recusar a alimentar o jogo da intolerância, ignorância e violência. É não aceitar discursos de ódio e ataques ao direito de existir.

Ser a resistência é, antes de mais nada, defender os direitos humanos universais. É se posicionar e não fugir de conversas difíceis. É se ver no outro e estar lá para o que é certo.

Resista.

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