Neste episódio damos boas vindas à Juliana Diniz, co-fundadora do IDR, onde cuida da primeira e segunda linha de trabalho do desenvolvimento regenerativo: as competências necessárias ao praticante regenerativo e a construção de campos vitalizadores nas equipes de trabalho. Além disso, ela fundamenta as bases filosóficas do IDR a partir dos seus estudos e experiências em fenomenologia, antroposofia, salutogênese, ecologia profunda e ecopsicologia, paradigma decolonial e não-violência. Aqui ela compartilha a sua trajetória a partir de quatro grandes rios por onde flui a sua vida e trabalho: cosmovisões não ocidentais; ecofilosofia; desenvolvimento humano; facilitação de grupos e desenho de projetos.
Juliana Diniz
Acordar a gratidão
Qual o lugar da apreciação, da gratidão e da celebração nas nossas vidas? Existir neste contexto planetário e tempo histórico é um motivo suficiente pelo qual sermos gratos?
A palavra “gratidão” se tornou recorrente nas nossas interações. Às vezes ela até pode soar piegas, um vício verbal new age esvaziado de significado. Com a Ecologia Profunda e o trabalho da Joanna Macy, essa palavra ganhou um sentido diferente e muito potente pra mim. Continue reading →
Os mais populares do ano
Nós temos muito o que agradecer. Este foi um ano de muitos encontros e conexão. Temos a sensação de ter construído uma base sólida na qual podemos nos apoiar com firmeza no ano que chega. E isso só foi possível com o envolvimento de muitas pessoas.
Estamos felizes com o crescimento do movimento regenerativo e, definitivamente, você faz parte disso.
Muito obrigado a você que se conectou, que se inspirou com um texto, que compartilhou uma ideia ou que fez um comentário apropriado. Muito obrigado a você que recebeu o nosso trabalho de coração aberto, que nos apoiou e nos incentivou a caminharmos com mais firmeza.
Entrando no clima de retrospectiva, deixamos uma lista com os nossos conteúdos mais populares.
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Podcasts mais populares de 2019
Por que não mudamos?
“A psicologia do indivíduo corresponde à psicologia das nações. As nações fazem exatamente o que cada um faz individualmente; e do modo como o indivíduo age a nação também agirá. Somente com a transformação da atitude do indivíduo é que começará a transformar-se a psicologia da nação. Até hoje os grandes problemas da humanidade nunca foram resolvidos por decretos coletivos, mas somente pela renovação da atitude do indivíduo.” — Carl Gustav Jung
Nós temos uma pequena janela de tempo para fazer mudanças significativas antes de entrarmos em um curso irreversível de mudança climática que abalará o planeta e a humanidade de maneiras imprevisíveis. O relatório de 2018 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas alertou que tínhamos cerca de 12 anos para fazermos mudanças massivas que poderiam impedir os impactos altamente destrutivos e irreversíveis da mudança climática.
E por que ainda não as temos feito? Há uma razão pela qual tem sido muito difícil encontrar soluções para os desafios globais e estarmos vivendo tamanhos retrocessos em relação à questão ecológica, econômica, social e política. A dificuldade que temos em superar os desafios que se apresentam se deve à resistência que temos em enfrentar as causas mais profundas que se escondem atrás de tamanha ignorância e destrutividade. A situação global é uma projeção da devastação de nossas paisagens internas espelhando o que devemos urgentemente olhar dentro de nós.
Qual o propósito da humanidade?
“A razão da vida é fazer mais vida. A razão da vida é trazer mais vida para tudo o que é para tornar o universo cada vez mais vivo. A vida está se desdobrando cada vez mais. E o ponto — e este é apenas um modo de ver as coisas — é fazer parte do crescente florescimento da vida.” — Charles Eisenstein
Dominar a matéria e rebaixar a natureza?
“O mundo não é um problema a ser resolvido; é um ser vivo ao qual pertencemos. O mundo é parte de nós mesmos e nós somos parte de sua totalidade de sofrimento. Até chegarmos à raiz de nossa imagem de separação, não pode haver cura. E a parte mais profunda de nossa separação da criação está em nosso esquecimento de sua natureza sagrada que também é nossa própria natureza sagrada. — Llewellyn Vaughan-Lee
Fomos acostumados a acreditar que o papel da humanidade sobre a Terra era explorar essa fonte supostamente infindável de recursos. Acreditamos que deveríamos nos distanciar da natureza para nos aproximarmos da cultura cuja expressão maior seria o desenvolvimento industrial e tecnológico. Ao explorar e dominar a natureza ficaríamos imunes aos seus riscos e desfrutaríamos de segurança e conforto.
Isso foi cientificamente justificado pelo paradigma materialista que entendeu o big bang como acidente e a existência humana como acaso legitimando a crença de que, por sorte da evolução, somos um corpo físico com capacidades cognitivas sofisticadas e, por isso, superiores a tudo.
Da história da separação à história do interser
“O mundo hoje, globalizado, tecnocrático, pragmático e vertiginoso, sofre de uma sequência acumulada de crises cada vez mais agudas que, no fundo, são a expressão de uma crise geral ou estrutural, uma crise de civilização.” — Victor Toledo e Narciso Barrera-Bassols
Da sociedade de crescimento industrial à sociedade que sustenta a vida, do Antropoceno ao Ecozóico, da consciência ego-sistêmica à consciência eco-sistêmica… Através de todas essas formas de contar a história da transição que vivemos hoje vemos a necessidade de superação da história da separação pela história do interser.
Da consciência ego-sistêmica à consciência eco-sistêmica
“No estado presente das coisas, a sobrevivência da humanidade depende de que as pessoas desenvolvam uma preocupação sincera com toda a humanidade e não apenas com sua própria comunidade ou nação. A realidade da nossa situação nos impele a agir e a pensar com mais clareza. A mentalidade estreita e o pensamento autocentrado podem ter nos servido bem no passado, mas hoje só poderá nos levar ao desastre.” — Joanna Macy
Otto Scharmer, professor titular do Instituto de Tecnologia de Massachusetts e co-fundador do Presencing Institute, também entende que vivemos um processo de transição de histórias e de consciências. Para ele, é fundamental e inevitável a aceleração de mudanças de paradigma e, mais profundamente, a mudança de uma consciência ego-sistêmica para uma consciência eco-sistêmica.
Saúde pessoal e saúde planetária
Não há nada que façamos que não afete a integridade da Terra. Mais do que afetar, nós nos tornamos uma força que está alterando dramaticamente a estrutura e o funcionamento do planeta.
O adoecimento da Terra expresso, por exemplo, na ameaça do seu termostato promovida pelo degelo ártico, está diretamente relacionado à saúde humana — física, psíquica e social. Devido aos nossos traumas, intrinsecamente relacionados à ordem antropocêntrica, materialista, colonial e patriarcal do mundo, recriamos trauma ao redor na forma de violência implícita e explícita à vida.
Embora tenhamos o privilégio da autoconsciência, agimos como animais acuados tentando sobreviver a partir de um sistema de defesa disfuncional. Nos sentimos separados uns dos outros e dos sistemas vivos e acreditamos que o sentido de comunhão que buscamos será suprido através da dominação e do controle — as estratégias relacionais que maquiam o impulso primitivo de lutar ou fugir.
Por outro lado, a destruição massiva da saúde e da integridade das águas, do ar, das terras e dos povos em nome de riqueza, poder e prestígio centralizados nos causam imenso estresse traumático de modos tão dramáticos — embora pouquíssimo considerados — que ainda somos incapazes de mensurar.
Porque sentimos dor — biográfica, transpessoal, planetária — e não a elaboramos pessoal e socialmente causamos sofrimento a nossa volta na forma de danos irreparáveis às comunidades humanas e aos sistemas vivos que, por sua vez, voltam a nos afetar.
Em outras palavras, sofremos com a sensação de separação e desconexão que constitui a subjetividade dos sujeitos modernos que, por sua vez, culminam em irresponsabilidade social e ecológica. Os sintomas se confundem com as causas formando um ciclo que se retroalimenta.
Mas neste momento de colapso inevitável das velhas estruturas e de necessidade emergente de novas formas de ser e estar no mundo, precisamos de pessoas sãs que possam encaminhar saídas deste ciclo autodestrutivo.
Precisamos ser as pessoas sábias e compassivas que conseguem acolher a dor da humanidade e a dor do mundo cuidando para que o sofrimento seja minimizado e para que as suas causas sejam radicalmente transformadas. Para tanto, precisamos descobrir como permanecer sãos em um planeta que queima e que clama pela nossa participação apropriada.
[Este texto é parte do material de apoio da jornada Em Busca da Visão – Propósito pessoal a serviço de Gaia]
Na próxima terça-feira (05/11/19) às 19h vamos conversar sobre como participar apropriadamente no mundo de modo a criar saúde e vitalidade pessoal e planetária. Inscrições aqui.
Foto: Ivars Krutainis
Do Antropoceno ao Ecozóico
A grande obra de cada tempo histórico
“Todos nós temos nosso trabalho particular. Temos uma variedade de ocupações. Mas além do trabalho que desempenhamos e da vida que levamos, temos uma Grande Obra na qual todos estamos envolvidos e da qual ninguém está isento: é a obra de deixar uma Era Cenozóica terminal e ingressar na nova Era Ecozóica na história do planeta Terra.” — Thomas Berry
Para Thomas Berry, acadêmico da Terra como gostava de ser chamado, cada época histórica tem a sua grande obra. A grande obra do Paleolítico foi a expansão humana a partir da África. Este processo esteve associado à criação de linguagem, rituais e estruturas sociais pelas comunidades caçadoras-coletoras. A grande obra do Neolítico foi o estabelecimento de comunidades agrícolas em territórios socioecológicos cujas paisagens foram manejadas através da prática extrativista e agrícola.
A Grande Virada
“A característica mais marcante deste momento histórico não é que estamos a caminho de destruir nosso mundo — na verdade, estamos neste caminho há algum tempo — mas que estamos começando a despertar de um sono de milênios para um relacionamento totalmente novo com o nosso mundo, com nós mesmos e com os outros.” — Joanna Macy
A sociedade de crescimento industrial
A sociedade de crescimento industrial fez das pessoas engrenagens na roda da produção e do consumo e está devastando os recursos limitados da natureza. Ela nos isolou do mundo natural e nos fez perder a percepção de nossa conexão com todos os seres.
Mais ainda, ela nos fez esquecer que nós somos a própria Terra tomando consciência de si mesma. A visão analítica e mecânica característica dessa sociedade obscureceu a visão holística e orgânica dos fenômenos impedindo-nos de ver a vasta e complexa rede de relações interdependentes de todos com tudo.