regeneração

Investimento regenerativo

Investimento regenerativo

Todo trabalho que realizamos mobiliza um esforço. Este esforço é um investimento, é um aporte de energia em algo do qual esperamos obter um retorno futuro. Este “algo” que criamos com um investimento, envolvendo dinheiro ou não, pode ser chamado de ativo.

A permacultura nos ajuda a entender estes investimentos a partir de três categorias. A primeira é o investimento degenerativo. Assim que o investimento foi feito o ativo criado começa a se deteriorar. Para que este se mantenha funcional é necessário um aporte contínuo de novos investimentos. Além disso, esses ativos comprometem a saúde local ao criar benefícios de curto prazo através da extração e esgotamento dos recursos do sistema. Em outras palavras: o sistema como um todo é empobrecido e o valor gerado pelo ativo sempre está em decadência. Exemplos disso são carros, estradas e prédios. Apesar de necessários, se tivermos um excesso desses “ativos” em um projeto ou região estes irão empobrecê-lo a longo prazo. Ao final o recurso investido é degenerado, ou seja, não retorna.

A próxima é o investimento generativo. Neste tipo de investimento você coloca o recurso em uma atividade e obtém um retorno proporcional ao investimento feito. A agricultura anual se comporta desta maneira. Após todo o investimento inicial você recebe o benefício da colheita mas retorna ao ponto de partida. Para que esta atividade gere mais recursos ou benefícios é necessário um novo investimento semelhante ao anterior. Isto é um investimento generativo: você coloca recurso, você retira, e então está no mesmo lugar de onde partiu.

Outra forma de entender os investimentos generativos é que estes nos permitem economizar recursos e necessitam de pouca manutenção ao longo do tempo. Estes ativos necessitam de um investimento inicial, não nos oferecem um lucro direto mas economizam mais energia em seu ciclo de vida do que foi necessário para criá-lo. As ferramentas são bons exemplos: elas facilitam e otimizam as nossas atividades e podem ser utilizadas para criar coisas úteis e até mesmo consertar outras ferramentas. Placas solares e biodigestores também são exemplos de investimento generativo pois economizam ou geram mais energia do que foi necessário investir para obtê-la.

O terceiro tipo é o investimento regenerativo. A sua principal característica é que ele melhora e aumenta o seu valor ao longo do tempo. Um bom exemplo é uma árvore ou uma agrofloresta. Com o passar do tempo a manutenção diminui enquanto a colheita aumenta. Em um dado momento o retorno é muito maior do que o investimento inicial. Este é o tipo de investimento que queremos maximizar em nossos projetos. São investimentos que geram benefícios crescentes a longo prazo.

Em projetos de base territorial ou em organizações o Desenvolvimento e Design Regenerativo (DDR) gera valor ao criar uma rede de cooperação em que cada membro pode desempenhar o seu maior potencial a partir de uma direção regenerativa comum. Com o passar do tempo o entendimento da dinâmica socioecológica aumenta, os laços são fortalecidos, a motivação e espírito local é elevada e o retorno social, econômico e ecológico supera em muito o investimento inicial.

Investimentos degenerativos são necessários em muitas ocasiões. Porém, ao colocá-los a serviço de uma atividade fundamentada em um investimento regenerativo conseguimos fazer com que o ativo que se deteriora ajude a gerar valor crescente a longo prazo. Ao equilibrar estes tipos de investimento conseguimos gerar riqueza e saúde social e ecológica.

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O que é a vida? — Uma comunidade regenerativa

O que é a vida? — Uma comunidade regenerativa

Escrito por Daniel Christian Wahl e traduzido por Felipe Tavares.

A vida — como um processo planetário — é uma comunidade regenerativa! Nas palavras de Janine Benyus: “A vida cria condições propícias ​​à vida”.

Para mim, a palavra “regenerativo” refere-se à capacidade inerente da vida de expressar a essência única de cada lugar através de diversidade elegantemente adaptada. Essa diversidade não apenas muda constantemente e evolui para níveis mais altos de complexidade e colaboração, como também contribui para tornar o local mais abundante, vibrante e favorável a mais vida ao longo do tempo.

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O caminho das organizações regenerativas

O caminho das organizações regenerativas

O primeiro passo de uma organização regenerativa é assumir a responsabilidade pela mudança. Isso significa ir além da conformidade, ou seja, deixar de estar satisfeito por apenas cumprir as obrigações legais. Isso não é suficiente. 

A organização regenerativa está a serviço de algo maior do que  si mesma. Assim, ela sai da conformidade e vai para a autorresponsabilidade pois entende que deve desempenhar um papel ativo na regeneração local. Ela acredita, profundamente, que possui a obrigação de contribuir por um mundo mais íntegro. Essa é a sua maior preocupação.

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O seu projeto é a sua revelação

O seu projeto é a sua revelação

O seu projeto não é apenas um projeto. Não é a soma das plantas baixas das suas edificações e nem o conjunto de suas diretrizes internas. Não é a sua cadeia de produção e nem o serviço que você presta.

A sua empresa ou organização não é apenas isso: uma empresa ou uma organização. Ela é a expressão última do seu ser. É o reflexo das suas percepções básicas sobre o mundo, das suas ideologias invisíveis e do seu sistema de crenças. Ela é a sua assinatura energética, a sua declaração de visão e o seu voto de confiança. É a sua maior contribuição para o futuro que você ajuda a construir hoje.

O seu projeto é muito mais do que um projeto. É o seu veículo de liderança, o seu instrumento para a transformação e o seu desejo revelado. É a história que você conta e é o que diz para o mundo sobre as histórias que você acredita. O seu projeto é a sua revelação, é a sua história, as marcas da sua evolução e a trilha da sua caminhada.

A todo momento precisamos escolher. Hoje você pode escolher contar uma nova história. Pode reinventar o seu projeto e transformar o seu futuro. Pode alinhar a sua ação com aquilo que você acredita que há de melhor em você. Pode começar a construção do legado que amanhã irá te orgulhar.

Foto: Quino Al

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Vamos conseguir?

Vamos conseguir?

Seremos capazes de superar os desafios de nosso tempo e construir um mundo viável? Não é tarde demais? Difícil demais?

Esta é uma indagação comum dos agentes de transformação. E quando dirigida a mim, eu respondo: não importa.

Não me interessa calcular as chances da humanidade sair da armadilha que criou para si. Não me interessa nem mesmo sustentar a civilização como está.

Mas me interessa contribuir a partir da minha melhor visão. Isso porque sei que o futuro se faz a partir de sucessivos presentes. E viver hoje da forma como acreditamos que devemos viver, desafiando tudo o que há de ruim a nossa volta, é por si só uma vitória maravilhosa.

A salvação da humanidade, esta tarefa colossal, não cabe a nós. Isso é um equívoco. Não é este o nosso objetivo.

O nosso objetivo é criar ilhas de sanidade em um mar de intolerância, egoísmo e ganância.

Você pode, com a influência que possui, criar espaços potentes para trabalhar e vivenciar aquilo que você acredita ser a melhor expressão da humanidade. Você pode viver o futuro hoje.

Em tempos incertos, quem escolhemos ser?

Foto: Clkraus

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A ponte

A ponte

O desenvolvimento regenerativo é fascinante. Ele resolve, no seu contexto, um paradoxo chave e abre caminhos para a construção de um mundo viável. Vou explicar.

Existe um vão. De um lado há uma terra fértil para ideias inovadoras. Esta é a casa de pensadores extraordinários e a maior preocupação destas pessoas é captar a inteligência da vida.

Estes mestres perceberam que os maiores problemas do mundo possuem origem no pensamento em si. Assim, dedicam as suas vidas a entenderem as falhas da visão de mundo dominante para que seja possível fundamentar um novo pensamento. Esta é a construção de uma nova ciência para orientar a sociedade: a visão de mundo dos sistemas vivos.

Do outro lado deste vão há uma paisagem árida e rochosa que pede por intervenção direta. Este lado abriga os fazedores. São idealistas que acreditam que um mundo mais bonito é possível e que para realizá-lo é preciso construí-lo ativamente, parte por parte, agora.

Assim, dedicam as suas vidas edificar paisagens sociais harmônicas: realizam projetos transformadores, fazem conexões e viabilizam a transformação. Com suor e lágrimas tornam realidade uma visão inovadora.

Acontece que entre a teoria e a prática regenerativa existe um obstáculo natural, este vão, que surge a partir da natureza distinta entre estas duas atividades: o pensar e o agir. Mas, sabemos que teoria e prática são complementares indissociáveis. Assim, um nunca estará completo sem a presença do outro. Precisamos, então, de uma ponte que os conecte.

Esta ponte precisa estar bem ancorada no solo fértil das ideias e no solo rochoso da prática. Ela deve ser robusta, generosa e testada. Deve existir uma via de mão dupla onde as ideias fluam para a ação e a ação esteja fundamentada em uma boa teoria.

E é aqui que o desenvolvimento regenerativo se mostra indispensável e fascinante. Este é um método de concepção e execução de projetos capaz de internalizar as teorias mais avançadas do pensamento ecológico e transformá-las em princípios e quadros conceituais capazes de orientar a prática. É a ponte que conecta o pensar e o fazer.

O praticante familiarizado com esta metodologia é capaz de enxergar e captar os princípios básicos de organização da vida. É capaz, também, de transformar estes princípios em diretrizes que vão materializar esta visão inovadora no projeto em que se está trabalhando.

Além de pensar de forma holística é necessário trabalhar de forma holística. Para tanto, precisamos de um método coerente, honesto e robusto. E esta é a contribuição única do desenvolvimento regenerativo.

Foto: Federico Beccari

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Entre dois mundos

Entre dois mundos

Dois mundos coexistem. O dominante, com o qual estamos acostumados, é pautado pela dominação. Podemos chamá-lo de mundo da separação pois este acredita que todos os seres são separados e operam a partir do autointeresse. Desta forma, o que existe é um ambiente ferrenho de competição.

O outro, embrionário mas latente, é um mundo pautado pela integralidade e respeito à vida. Este reconhece que todos fazemos parte de uma teia viva e que somos interdependentes. Por isso, podemos chamá-lo de mundo do interser. Nele acreditamos que só é possível existir porque todas as outras coisas existem. Assim, temos um ambiente de cooperação rumo à coevolução dos sistemas vivos.

O agente de regeneração habita estes dois mundos. Quando olhamos para as tristezas do mundo da separação podemos ficar desesperançosos. É fácil sentir-se pequeno diante um mundo-monstro. Mas, mesmo assim somos compelidos a trabalhar neste lugar.

O trabalho que a liderança regenerativa desempenha no mundo da separação é o de resistência, reparo e cura. É a tentativa de impedir que um mal maior seja feito. É uma dura luta para frear a destruição.

A realidade do mundo da separação, no entanto, não invalida os avanços do mundo do interser. Coexistindo com todas as mazelas, há grandes líderes e iniciativas que são a materialização de um mundo melhor.

Viver entre dois mundos é aceitar a incerteza, a ambiguidade e a contradição da caminhada. É realizar o “trabalho de bombeiro” do ativista e ao mesmo tempo desempenhar o “trabalho de visionário” que constrói novos caminhos.

Trabalhar no mundo do interser é fazer o impossível. É operar a partir dos nossos corações e cultivar uma mente ampla e amorosa o suficiente para cuidar e nutrir iniciativas transformadoras.

Te convido, humildemente, a assumir o seu lugar. Nem lá, nem cá, entre dois mundos, abrindo trilhas desconhecidas, mostrando o caminho para um mundo mais bonito ao mesmo tempo em que cura e repara os danos já causados.

Foto: Sina Katirachi

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Liderança regenerativa

Liderança regenerativa

Para alcançarmos um futuro próspero, mais do que fazer as coisas diferente, é necessário redefinir a presença humana na Terra.

A regeneração é uma proposta de harmonização das atividades humanas com a inteligência dos sistemas vivos. Porém, a curva de aprendizagem envolvida nessa mudança é longa.

Precisamos de pessoas que nos mostrem caminhos para um futuro viável e que nos ajudem a embarcar em uma jornada de transformação. Precisamos de pessoas que assumam a responsabilidade de liderar a partir de um propósito coletivo e cuja motivação seja sanar as dores de Gaia.

A essas pessoas nós podemos dar o nome de líderes regenerativos.

Uma liderança regenerativa se expressa de diferentes maneiras a depender de seu arquétipo pessoal: como a guerreira comprometida em conter a destruição ecossocial, a curadora sensível capaz de curar as dores da Terra ou a professora motivada em transformar a percepção da realidade. Todas, no entanto, possuem uma orientação comum: reparar os danos socioambientais causados pela atividade humana e devolver uma visão de futuro próspero à humanidade.

A jornada da liderança regenerativa começa nas profundezas do lugar mais temeroso que podemos acessar. Ela começa dentro de nós mesmos.

Guiados pela premissa de que não é possível realizar a transformação que queremos para o mundo sem antes realizarmos a transformação interior de como pensamos e de quem somos capazes de ser, a liderança regenerativa cruza limiares obscuros e caminha no fio da navalha da consciência humana.

A transformação pessoal inspira a transformação coletiva. E tudo o que nós queremos é estar com pessoas que nos inspiram a ser a melhor versão de nós mesmos.

O mundo precisa de lideranças regenerativas e te convida a realizar o seu maior potencial: o de servir às necessidades da Terra e inspirar outras pessoas a fazer o mesmo.

Você é importante demais para não ser você mesma.

Foto: Christopher Burns

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Design de culturas regenerativas

Design de culturas regenerativas

Daniel Wahl, autor de Design de Culturas Regenerativas, estará no Brasil em Março para uma série de palestras e cursos e para o lançamento do seu livro em edição brasileira. Abaixo segue a resenha do livro.

Há cinquenta anos a humanidade foi presenteada com a primeira foto da Terra tirada da órbita lunar, o nascer-da-terra ou earthrise. Esta imagem — a Terra flutuando no vazio negro do espaço — mudou para sempre a perspectiva de como a enxergamos e de como nos enxergamos nela. Foi o primeiro momento em que pudemos coletivamente nos afastar e ter uma visão ampla o suficiente para perceber que estamos todos habitando um mesmo barco, a espaçonave Gaia.

Hoje, cinquenta anos depois, ainda temos dificuldade em assimilar o que significa e o que requer de nós morar em uma mesma casa flutuante. Precisamos nos afastar ainda mais. É necessário realizarmos uma perspectiva ecofilosófica capaz de perceber o significado de sermos humanos e habitantes de Gaia.

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Terra, mosaico de biorregiões

Terra, mosaico de biorregiões

Ao longo da vida construímos a imagem da Terra como um bloco monolítico de superfície plana. Dificilmente conseguimos ter viva a imagem de estarmos gravitacionalmente conectados à superfície de um organismo superdiverso que dança no vazio cósmico.

A Terra não é um bloco. É um conjunto de regiões altamente diferenciadas e articuladas entre si. E cada um de nós fazemos parte de alguma de suas paisagens. Inevitavelmente, o lugar onde estamos é parte do que somos. Reciprocamente, alguma biorregião depende da nossa participação apropriada na sua ecologia.

Nesse sentido, o senso de não-pertencimento que alguns de nós carregamos está relacionado diretamente com a nossa falta de identificação com um lugar, uma paisagem, uma biorregião da qual somos parte. A qual biorregião você pertence?

O que são biorregiões?

A formação geológica, as condições climáticas e as formas de vida particulares que se expressam em um determinado lugar compõe o que chamamos de biorregiões. A Terra é um mosaico de biorregiões.

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