Uma questão de escala

Foto: Felipe Dias

Muitos dos nossos esforços para mudanças significativas são inefetivos por conta da escala em que atuamos.

Helena Norberg-Hodge, diretora do Local Futures, disse recentemente que “vivendo fora da escala humana somos incapazes de ver a confusão em que nos metemos”.

Os problemas que enfrentamos, como a crise climática e a polarização política, se tornaram tão grandes e complexos que não conseguimos ver com clareza como contribuímos para o seu agravamento ou dissolução.

Diante do reconhecimento de que eles são imensos, buscamos uma grande solução sem perceber que buscar uma grande resposta ou uma solução universal é parte do problema — na realidade, é o próprio problema.

Nenhum de nós será capaz de oferecer respostas para o problema como um todo porque somos incapazes de fazer sentido de tamanha complexidade. Mas todos nós podemos trabalhar localmente fazendo coisas que podem parecer pequenas, mas são promissoras.

Isso é fundamental porque em um mundo em acelerada globalização, os lugares em que vivemos estão sendo destruídos. A vitalidade, resiliência e espírito dos lugares, expressos na sua riqueza biológica e cultural, estão desaparecendo sob o impulso da homogeneização das paisagens e criação de ambientes urbanos e rurais controlados.

“Mundo” ou “planeta” são teóricos, abstratos, distantes demais para nos fazer mover. Mas eles são feitos de lugares.

A vida acontece em lugares. A nossa experiência de vida está corporificada nos lugares. A vida biocultural das populações nos seus territórios flui dentro e entre lugares.

A recordação de que vivemos em lugares específicos e do valor que eles podem gerar para nossa qualidade de vida e para os lugares ainda maiores de que fazem parte deveria se associar às nossas intenções de mudança.

Os nossos lugares são parte do que somos. Se não sabemos nada sobre onde estamos, sabemos pouco sobre nós mesmos. E nenhum gesto contra a padronização e o espólio é tão poderoso quanto aqueles vindos de pessoas que amam, conhecem e, por isso, protegem seus lugares.

Em vez da ênfase nas respostas únicas, soluções universais e escalas intangíveis, fazer um bom uso da terra, ser um vizinho generoso, se envolver com os desafios do entorno, fundamentar políticas em práticas locais nos dá melhores condições de responder aos problemas reais que, em última instância, são locais ou se concretizam de forma particular em cada localidade.

Pessoas vivendo em escala humana, cuidando dos seus lugares e direcionando seus esforços para pequenas intervenções na escala apropriada são capazes de contribuir efetivamente para revitalizar o espírito dos lugares que as ancoram e catalisar transformações que tocam diferentes aspectos deste sistema e dos sistemas maiores com que ele se relaciona.

Quão poderosa pode ser uma rede de pessoas fazendo do amor e proteção aos seus lugares uma causa comum e um motivo para se apoiarem na busca de autonomia e resiliência e, assim, contrabalançar essa coisa terrível que é a massificação das pessoas e das paisagens únicas da Terra?

 

Nos dias 15 e 16 de fevereiro acontece a atividade Regeneração e a escala do lugar.

Serão dois encontros para olhar para nossa relação com nossos lugares e conversar sobre regeneração local e transformação sistêmica a partir de noções como fronteira, escala, saúde, beleza e espírito.

Para participar é só se inscrever no Círculo Regenerativo.

Posted by Juliana Diniz

Através da conciliação entre desenvolvimento humano e social e a inteligência dos sistemas vivos, facilito processos de aprendizagem e transformação pessoal e coletiva que promovam a saúde planetária e protejam a memória biocultural da Terra.

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