Como gerar um processo em que os objetivos estabelecidos por um projeto impulsionam a evolução dos seus lugares?
Como fazer com que os projetos prosperem mesmo depois da saída dos seus iniciadores?
Nas últimas semanas estivemos trabalhando na Capacitação em Desenvolvimento Regenerativo a importância de tomar o potencial local como fundamento dos projetos. Agora vamos trabalhar as características que devem ter os objetivos de um projeto que pretende contribuir para a regeneração do seu território.
Aproveitamos para postar no blog do IDR um pouco do que estamos discutindo.
Começando pelo potencial local
Identificar o potencial local cria as condições iniciais para o envolvimento dos projetos com os seus lugares. Ver um novo potencial é quase sempre uma fonte de energia, mas aproveitar e investir essa energia para levar um projeto adiante requer o estabelecimento de objetivos estratégicos. É através da definição de objetivos apropriados que ambos, o projeto e o seu lugar, podem realmente evoluir.
O desenvolvimento regenerativo tem um modo particular de pensar e definir objetivos. A partir dessa abordagem, pensamos objetivos como a construção de capacidades que geram um novo valor no sistema em que se está trabalhando.
Construindo capacidades regenerativas
Uma vez que visualizamos o lugar do projeto realizando seu potencial, devemos identificar quais capacidades precisam ser construídas neste sistema para que ele alcance este estado, e de que forma o projeto pode contribuir para isso exercendo o seu papel gerador de valor.
Assim, as capacidades regenerativas emergem do potencial local e buscam levá-lo à existência alinhando, para tanto, diferentes atores e interesses em uma dinâmica que cria as condições para o aprimoramento contínuo.
Essa forma de definir objetivos trata de capacidades que possibilitam que o sistema em que se trabalha não apenas atinja metas específicas, mas também alcance novos estados de organização — a partir dos quais pode buscar novos fins e propósitos mais significativos.
Diferente de objetivos pontuais que, depois de alcançados, podem levar o projeto a perder o sentido, as capacidades regenerativas não desaparecem quando o projeto é “finalizado”. Isso porque elas estão fundamentadas no potencial evolutivo da relação do projeto com o seu lugar, e o traduz em objetivos que criam o nível adequado de motivação e preparam o terreno para a evolução contínua para além do projeto.
O caso da cooperativa de alimentos Brattleboro
De supermercado justo para o mercado regenerativo
Criada em 1975, no estado de Vermont, Estados Unidos, a cooperativa de alimentos Brattleboro começou como um pequeno clube de compras e cresceu até ocupar um quarteirão inteiro no centro da cidade, possuir aproximadamente 6.000 membros e empregar cerca de 100 pessoas. Com o sucesso do empreendimento, foi decidido investir em uma nova sede que representasse sua identidade e valores. Para tanto, solicitaram ajuda a fim de construir um prédio com certificação em sustentabilidade. E, ao ficarem cientes do conceito de desenvolvimento regenerativo, os diretores solicitaram ao grupo Regenesis auxílio para aprofundar a prática de seus valores.
No trabalho com o Regenesis foram identificadas situações que ameaçavam a viabilidade futura da cooperativa. Uma delas é a vulnerabilidade do empreendimento a longas cadeias de suprimento, tendo em média uma distância de 2400 km do local de produção para o local de venda. Outra situação é a degeneração dos produtores locais que sofrem com os solos degradados, a urbanização e o envelhecimento da população do campo, além dos rumores da chegada de uma multinacional do setor de alimentos que poderia inviabilizar o futuro da cooperativa.
Ao mesmo tempo em que a cooperativa é uma instituição comunitária comprometida e com profundas raízes locais, é dependente na importação de alimentos e vulnerável ao fracasso dos cultivos, preço de combustível, greve do setor de transporte e vários outros elementos externos. Ficou claro que para enfrentar os desafios encontrados a cooperativa deveria ir além da tarefa que inicialmente colocou para si mesma de construir um prédio verde.
A cooperativa se viu diante da necessidade de transformar o papel que enxergava para si mesma de supermercado justo para o de mercado regenerativo. A partir de então, ampliou a sua consciência a respeito das especificidades locais e do perigo do desaparecimento do patrimônio alimentar e cultural de sua região. Com uma nova visão a respeito do seu papel — regenerar a comunidade local de agricultores familiares — a cooperativa tornou-se indispensável no território ao começar a oferecer cursos de agricultura orgânica, viabilizar assessoria técnica rural, encurtar a distância entre os consumidores e os produtores e promover a consciência da importância de se consumir produtos cultivados localmente.
Dessa forma, a partir da estratégia sugerida pelo desenvolvimento regenerativo, foi possível evoluir os ganhos energéticos que a abordagem ecoeficiente (dos prédios verdes e técnicas sustentáveis) proporciona para ganhos sistêmicos e regenerativos amplos, tornando a comunidade economicamente resiliente e os agroecossistemas locais mais vivos.
Aplique ao seu contexto
- E no seu contexto, como são pensados os objetivos de um projeto?
- Qual a natureza desses objetivos? Que qualidade eles têm?
- Eles surgem de que tipo de preocupação? Qual o fluxo de pensamento que leva até a definição de objetivos específicos?
- O quanto eles motivam e engajam as pessoas — os atores locais e as equipes de gestão?
Adorei, Ju, gratidão!