O mundo como uma máquina dá lugar a um mundo como redes ou como sistemas dentro de sistemas vivos.
O pensamento sistêmico é fundamental para entender ambientes complexos e propor soluções aos desafios do nosso tempo. Assim, mudanças no pensamento e na prática são fundamentais e entendê-las é o primeiro passo para a prática sistêmica. Neste artigo abordaremos as principais mudanças necessárias para o pensamento sistêmico. São elas: das partes para o todo, dos objetos para os relacionamentos, da medição para o mapeamento, do conhecimento objetivo para o conhecimento contextual e da estrutura para o processo.
Das partes para o todo
A característica mais geral do pensamento sistêmico é a mudança de perspectiva das partes para o todo. Os sistemas vivos são integrados ao todo e suas propriedades não podem ser reduzidas às propriedades das partes menores deste sistema. Suas propriedades essenciais, ou sistêmicas, são propriedades do todo e que nenhuma das partes possui (CAPRA e LUISI, 2014). Elas surgem dos padrões de organização que são característicos da classe particular de sistemas a que pertencem. As propriedades sistêmicas são destruídas quando um sistema é dissecado, tanto fisicamente ou conceitualmente, em elementos isolados.
Dos objetos para os relacionamentos
Na visão de mundo mecanicista, o mundo é uma coleção de objetos. Estes objetos interagem um com os outros, portanto, existe um relacionamento entre eles, porém, estas relações são secundárias (CAPRA e LUISI, 2014). Na visão sistêmica nota-se que os próprios objetos são redes de relacionamentos incorporados em redes maiores. Para o pensamento sistêmico, as relações são primárias e os objetos são secundários (CAPRA e LUISI, 2014). Assim, o foco da atenção e análise vai dos objetos para os relacionamentos.
Da medição para o mapeamento
A mudança de perspectiva de objetos para relacionamentos não acontece facilmente, é algo que vai de encontro a prática científica tradicional da cultura ocidental. A ciência dominante diz que as coisas devem ser medidas e pesadas, porém relacionamentos não podem ser medidos e pesados, relacionamentos precisam, na verdade, ser mapeados (CAPRA e LUISI, 2014). Portanto, a mudança de percepção dos objetos para os relacionamentos vem acompanhada por uma mudança metodológica de medir para mapear. Quando se mapeia as relações, encontram-se certas configurações que são recorrentes. Isto é chamado de padrões. Redes, ciclos e bordas ecossistêmicas são exemplos de padrões de organização que são característicos dos sistemas vivos e estão no centro das atenções da ciência sistêmica (CAPRA e LUISI, 2014).
Do conhecimento objetivo para o conhecimento contextual
Para que se possa focar no todo ao invés das partes é necessária uma mudança do pensamento analítico para o pensamento contextual e do conhecimento objetivo para o conhecimento contextual. As propriedades das partes são entendidas como propriedades emergentes, e não intrínsecas, e que só existem devido ao seu devido relacionamento com o todo (CAPRA et al., 2000). Assim, pensar de forma sistêmica é pensar de forma “contextual”, e pelo fato de que para explicarmos as coisas em termos do seu contexto significa explicá-las em termos do seu ambiente, toda concepção de sistemas é uma concepção ambiental (CAPRA et al., 2000).
Da estrutura para o processo
Na concepção cartesiana existem estruturas fundamentais e, então, há forças e mecanismos com os quais estas interagem dando origem aos processos. Na ciência sistêmica, cada estrutura é vista como uma manifestação do processo subjacente. Assim, o pensamento sistêmico muda de uma perspectiva de estruturas para uma de processos (CAPRA e LUISI, 2014). Nos sistemas vivos há um fluxo contínuo de matéria ao passo que a sua forma é mantida. Assim, há crescimento e declínio, regeneração e desenvolvimento. A compreensão das estruturas vivas é, portanto, intimamente ligada ao entendimento dos processos metabólicos e desenvolvimentais (CAPRA et al., 2000).
Referências
CAPRA, F. et al. Ecoalfabetização: preparando o terreno. Learning in the Real World, 2000.
CAPRA, F.; LUISI, P. L. The Systems View of Life: A Unifying Vision. Cambridge University Press, 2014.
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Sobretudo o pensamento sistêmico se distancia do paradigma da imagem estacionada, congelada, recortada e atribuída para se aproximar de um contemplar de movimentos.. sobre aquilo que emerge, que se move e se relaciona com o vir a ser.
O pensamento sistêmico nem precisa ser acadêmico, dado que carece de ser humilde, generoso e desapegado de categorizar aquilo que nota, pois se deixa mover pelas brechas da sensibilidade natural e daquilo que não se vê, mas compreende existir.
E por isso flui da parte ao todo, indo do todo a qualquer parte e de volta ao todo de todas as partes. Desenhando mapas e fluxos de relacionamentos e atenção que regeneram, deixam trilhas de conhecimentos para futuro… continuam a aportar vida.
Parabéns pelo trabalho de conectar, traduzir e nutrir de forma simples, conhecimentos tão valiosos e complexos, e também já tão necessários ao nosso dia a dia.