Prática regenerativa e atitude fenomenológica

Foto: Raimond Klavins

Para ser efetivo, o impulso de regenerar ou promover mudanças em um sistema de qualquer natureza deve estar associado ao interesse de verdadeiramente conhecê-lo. Não é possível intervir adequadamente em algo que se conhece superficialmente.

Mas é isso que costumamos fazer. Nos faltam capacidades e conhecimento de base que nos elevem além do hábito de concluir precipitadamente e impor soluções baseadas em agilidade, eficiência, replicabilidade. Então, sem o envolvimento adequado com aquilo que se deve conhecer antes de intervir, reforçamos os padrões mecânicos e artificiais responsáveis pela perda de saúde e vitalidade nos sistemas à nossa volta.

Consciente dessa tendência e preocupada com os seus efeitos, a prática regenerativa é informada por um conjunto de premissas de outra natureza que vieram do entendimento de como funcionam sistemas vivos em evolução.

A prática regenerativa tem como premissas conhecer a integralidade e essência do sistema com que se trabalha, mapear seus relacionamentos com os sistemas aninhados de que participa, visualizar seu potencial evolutivo, trabalhar com os seus processos de desenvolvimento, projetar intervenções nodais capazes de produzir efeitos sistêmicos, perceber e modelar campos de energia e outros.

Essas mesmas premissas estão no coração da abordagem científica de Goethe. Embora ele tenha sido historicamente reconhecido pelo seu trabalho como artista mais do que como cientista, Johann Wolfgang von Goethe foi precursor do que chamamos hoje de ciências holísticas e pensamento ecológico.

Na contracorrente da ciência do seu tempo, marcada por um empirismo duro na filosofia, pela lógica classificatória na biologia e pelas leis gerais determinísticas na física, Goethe sugeriu que para conhecer o mundo vivo precisamos de um empirismo delicado — de amor e compromisso na busca de entendimento sobre os processos relacionais, paradoxais e evolutivos da natureza.

Ele assumiu a prática desse empirismo delicado como sua tarefa e como a tarefa de quem quer adentrar os mistérios do mundo vivo. Ela envolve colocar nossos sentidos à disposição do objeto observado, perceber detalhes e nuances, relacioná-los para compreender como fazem um todo, como participam da unidade e coerência deste todo e como o todo está expresso em cada parte, detalhe e nuance.

A atitude (que veio a ser nomeada como fenomenológica) sugerida por Goethe nos leva a compreender  conceitos como os de essência e singularidade, relação e integração, evolução e dinamicidade, transformação e metamorfose, complexidade e emergência. Mais do que isso, ela faz esses conceitos nos moverem e nos transformarem. À medida em que os percebemos como processos vivos presentes em tudo à nossa volta, pode ser que nasça em nós, como Goethe disse, um novo órgão de percepção.

 

No próximo ciclo que acontece no Círculo Regenerativo, Fenomenologia aplicada, teremos a oportunidade de descobrir como profissionais da área de saúde, educação, agricultura, facilitação de processos e desenvolvimento territorial exercitam essa forma de se relacionar com fenômenos do seu cotidiano e incorporam uma atitude fenomenológica na sua atuação.

Para participar é só se inscrever no Círculo. Será um prazer ter você com a gente!

Posted by Juliana Diniz

Através da conciliação entre desenvolvimento humano e social e a inteligência dos sistemas vivos, facilito processos de aprendizagem e transformação pessoal e coletiva que promovam a saúde planetária e protejam a memória biocultural da Terra.

2 comments

Há uns dez anos atrás, eu escrevia para mim mesmo palavras que buscavam uma linguagem como a que li neste texto permeado de primor e conhecimento. Que alegria ler o termo “saúde planetária”. Estamos nessa sinergia planetária, Juliana e todas as pessoas do IDR. Grandes abraços!

Juliana Diniz

Oi Ahlan, obrigada pelo seu comentário! Fico feliz com as ressonâncias entre o texto e o seu pensamento. Estamos juntos. Grande abraço!

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