Cotidianamente, temos insights. Mas nem toda ótima ideia pode ser considerada uma visão.
A visão, no sentido sugerido aqui, tem uma qualidade superior à de um insight ou de um sonho. Ela carrega consigo um sentido inquestionável de autoridade espiritual e se manifesta como imagens que surgem à percepção consciente dissociadas das crenças, conceitos, premissas e suposições do visionário.
Uma visão não nasce da atividade intelectual e de elucubrações teóricas. Além disso, mesmo quando ativamos um nível refinado de percepção que envolve a sensorialidade, a inteligência do coração e estados alterados de consciência, ainda sim, não quer dizer que criamos as condições necessárias para recebê-la.
Ela acontece no encontro, mediado por forças sutis, do consciente com o inconsciente onde, por um momento, temos a chance de conhecer o desconhecido que, independentemente da nossa vontade, quer se fazer conhecido através de nós.
Esse processo é o desdobramento — o salto evolucionário — de causas promovidas anteriormente. Assim como não se pode forçar uma semente a germinar, a revelação visionária nunca pode ser premeditada. Mas, apesar da revelação não poder ser forçada, a busca da visão pode cultivá-la.
Entre os pré-requisitos para a revelação da visão estão a simultânea interiorização e abertura. Somos desafiados a reconciliar o paradoxo entre fechar-se e abrir-se, aprofundar e ampliar, concentrar e expandir.
A interiorização significa essencialização. Ela implica atravessar o buraco da agulha onde tudo que é dispensável é abandonado. Objetivos auto-referenciados, desejos auto-centrados, convicções enrijecidas, emoções habituais… nada disso importa. O que é valioso é o núcleo verdadeiro, cru e nu do ser.
A abertura envolve o descondicionamento dos sentidos e a ampliação da percepção para ouvir o silêncio, ver o invisível e tocar o intocável. Abrir-se é colocar-se em conversa com a vida mesmo sem compreender a sua linguagem. É permitir-se encontrar sentido em símbolos desconhecidos. Nenhum alvo deve ser procurado. Nenhum sinal deve ser desprezado.
Desse modo, em uma busca por visão, uma clara intenção deve ser estabelecida no começo da jornada e, então, deve ser esquecida durante o caminhar. A vontade determinada deve ser harmonizada com um estado de espírito relaxado. O único lugar a se chegar é o da observação atenta e da escuta profunda.
Um tanto de coragem, humildade, entrega, confiança, reverência e paciência é requerido, ou desenvolvido, nesse processo.
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Este é um fragmento do artigo Sobre a busca de visão.
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Foto: Jean Vella