O novo nasce sozinho, não precisa ser criado

Foto: Alex Hockett

Há um consenso entre grandes referências que atuam no campo social e do desenvolvimento organizacional de que uma intervenção pode ser transformadora se estiver apoiada no potencial latente dos sistemas, indivíduos, encontros, organizações, lugares.

Para Otto Scharmer, da Teoria U, trata-se de sustentar a atenção no campo do futuro emergente, algo que possibilita um fluxo de inteligência coletiva e cocriação.

Para o Regenesis e a Carol Sanford, o potencial inerente dos sistemas vivos em contribuírem de forma única aos todos de que fazem parte é o princípio que orienta toda a sua trajetória de desenvolvimento — e com o qual temos de nos conectar para apoiar o desenvolvimento das pessoas, suas iniciativas e territórios.

Allan Kaplan é enfático ao dizer que o trabalho do profissional do desenvolvimento deve ser o de “permitir que o processo do próprio organismo social evolua com integridade e justeza”, criando as condições favoráveis para isso.

Autonomia. Autodeterminação. Se colocar a serviço da vida. Conectar-se com o futuro emergente. Apoiar processos autônomos de desenvolvimento. Ver potencial genuíno além da condição aparente.

Segue um inspirador trecho do livro Artistas do Invisível do Allan:

O profissional de desenvolvimento tem de estar ao mesmo tempo dentro e fora: dentro e fora do processo do organismo, dentro e fora da intervenção, dentro e fora de seu próprio processo.

Há muitos ritmos e formas diferentes acontecendo, e muitas cacofonias arrítmicas e amorfas soando ao mesmo tempo, incluindo as do profissional. Estar equilibrado, centrado no meio de tal fluxo social, ciente de que o mundo ainda pode ser sustentado e o fio da meada outra vez encontrado, é o que se exige desse profissional.

Mas como aprender a se manter centrado, a fim de enxergar o mundo e conseguir intervir sobre ele, mesmo em meio ao movimento, à contradição e à confusão?

Primeiro, temos de aprender a enxergar o processo em si, o que significa enxergar o invisível, apreciar o todo subjacente. Ver todo o sistema como um só ser, em vez de focalizar cada parte componente.

Depois, precisamos aprender a compreender os padrões arquetípicos que permeiam o processo humano e social e, por outro lado, a ler a unicidade dos caminhos individuais que se manifestam através desses padrões arquetípicos. Todos eles – padrões e caminhos – invisíveis.

Em seguida, temos de integrar a disciplina da intervenção a esses processos sociais, para que ela se torne uma prática familiar; rigorosa, mas flexível.

Estar centrado, estar autoconsciente, significa se sentir à vontade com a noção de vazio. Não significa se abarrotar de opiniões, informações e soluções de especialistas, mas sim se esvaziar, para permitir que o processo do próprio organismo social evolua com integridade e justeza.

O novo nasce sozinho, não é criado. A única aspiração que podemos ter é a de criar as condições favoráveis para que ele nasça.

Ao contrário do que pode parecer, isso não é ser passivo. O que pode exigir tamanha vontade e discernimento, e ser tão gratificante, quanto apoiar verdadeiramente o desenvolvimento de um fenômeno vivo?

Te convido a treinar essa capacidade com a gente no Programa de Desenvolvimento do Profissional de Impacto. O segundo workshop, Campos de energia: Criando condições propícias ao desenvolvimento, que acontece nos dias 16 e 17 de setembro, traz as referências da Teoria U e do Artistas do Invisível para ampliar nossa percepção dos campos sociais e capacidade de fazer intervenções mais éticas e estratégicas.

Posted by Juliana Diniz

Através da conciliação entre desenvolvimento humano e social e a inteligência dos sistemas vivos, facilito processos de aprendizagem e transformação pessoal e coletiva que promovam a saúde planetária e protejam a memória biocultural da Terra.

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