A criatividade tem uma relação íntima com o inconsciente.
Rollo May, no livro A coragem de criar, diz que não há o inconsciente em si, mas dimensões subconscientes e pré-conscientes da experiência. Nessas dimensões reside o potencial de conhecimento e de ação que a pessoa desconhece. Esse potencial é a fonte da criatividade.
Dessa forma, a exploração dos fenômenos do inconsciente se relaciona diretamente e de modo fascinante com o processo criativo. No entanto, os fenômenos irracionais do inconsciente constituem uma ameaça à ordem mecanizadora do mundo que requer ordem, uniformidade, previsibilidade. A potencialidade recebida das profundezas da mente não combina com a apologia moderna à ciência dura e à eficácia técnica.
Desde o século XV, através das tradições renascentistas e iluministas, somos ensinados a bloquear o acesso ao que não é racional. Os aspectos reducionista, materialista e mecanicista do paradigma dominante agem como escudos entre nós e a natureza bloqueando-nos o acesso às regiões mais profundas da experiência: o instinto, o místico, o inconsciente.
Assim, aprendemos a nos proteger contra o inconsciente e a reprimir os impulsos do espírito que são, por sua vez, a própria fonte de prazer e de ampliação e aprofundamento do sentido da vida.
A ameaça representada pelo inconsciente criativo inspira pavor patológico aos sistemas de crença naturalizados e regimes sociais estabelecidos. Mas a inovação, seja qual for, não nasce da previsão, do controle ou do domínio tensionado. Ela nasce da descoberta venturosa que acontece através da abertura lúcida, da experimentação divertida e do prazer deliberado.
Foto: Jonas Denil