Essência é um conceito antigo usado para alegar que cada ser tem qualidades que o fazem único, singular, específico. Ben Haggard (2017) diz que a qualidade que faz algo distintivo é exatamente o que deve ser entendido como essência. Carol Sanford (2020) define essência como o cerne irredutível de algo, o que o torna singularmente ele mesmo. Pamela Mang e Ben Haggard (2016, p. 48) trazem que a essência é “a verdadeira natureza ou caráter distintivo que torna algo o que é; o elemento permanente versus o acidental do ser”.
Eles também dizem que a distintividade é uma característica dos sistemas vivos, ou seja, cada sistema vivo é distinto um do outro e expressa uma essência que é a fonte de sua singularidade. Assumir a essência como um princípio fundamental de sistemas vivos é imprescindível porque o potencial regenerativo de sistemas vivos surge desse aspecto central distinto não importando se é uma árvore ou uma floresta, uma pessoa ou uma cidade (Mang e Haggard, 2016).
Esse núcleo distinto não é sobre uma pilhagem específica de atributos ou hábitos, mas sobre o âmago de algo. É o que identificamos como único em um todo, diferente de qualquer outro todo que existiu no passado ou existe no presente, e não replicável para outros todos (Sanford, 2018). Considerar a essência de algo é assumir que o que é visto ali nunca será visto em nenhum outro tempo e lugar.
Dito de outra forma, devido à essência, não há duas entidades ou sistemas vivos idênticos. A essência indica a impossibilidade da substituição. Quando a essência de algo é considerada em um processo de tomada de decisão é impossível que esse algo seja substituído. E, ao contrário, quando é desconsiderada é provável que esse algo se torne dispensável. Além disso, se a essência de algo é continuamente obscurecida, ao longo do tempo esse algo perde a capacidade de ser ele mesmo.
Dessa forma, enquanto princípio, a essência atua como um conceito unificador e um farol na tomada de decisão (Sanford, 2016). Para descobri-la nas pessoas, organizações e lugares é preciso prontamente considerá-los únicos, observar atentamente sua singularidade e esclarecer cada vez mais o que os tornam indispensáveis e insubstituíveis. Para tanto, será de grande valia nos perguntarmos “o que faz isso ser singular como é?” e “o que faz isso ser isso e não outra coisa qualquer?”.
A essência não está dada
A essência ou núcleo distinto de um sistema vivo é formada em sua origem. Embora essa essência possa ser regenerada, ela jamais pode ser copiada (Sanford, 2016). Um osso fraturado no organismo humano, por exemplo, se regenera usando o código genético constituído na fase gestacional. Uma maneira de entender a regeneração, inclusive, é como a revitalização da essência de algo. Se regenerar é dar nova vida e a essência é sobre a forma singular como um sistema vivo processa a vida, a regeneração acontece através da expressão da essência em ordens cada vez superiores.
No entanto, apesar da essência estar presente desde a geração de um sistema vivo, nós não podemos considerá-la em pessoas, projetos, organizações, lugares etc. como garantida. Devido aos aspectos culturais e dinâmicas de design infundidos na realidade, muitas vezes, a singularidade dos fenômenos é desconsiderada, obscurecida, constrangida e combatida.
No entrelaçamento do domínio humano com o mundo vivo, nós não somos ou nos tornamos essenciais por acidente. Nós temos que fazer isso deliberadamente através de ação consciente e esforço intencional. Em face à globalização dos territórios, homogeneização dos indivíduos, estandardização dos produtos, pasteurização dos ambientes, comoditização de recursos, nós precisamos descobrir e reivindicar ativamente a essência das “coisas”.
Isso é impossível através do costume de coletar fatos e registrar observações olhando apenas para o que está dado, apenas para o nível do existente. O gesto de procurar a essência deve ser parecido com o farejar dos nativos que seguem os rastros dos animais para caça ou de aves de rapina com suas visões de longo alcance — nos dois é traçada a trajetória de onde algo está vindo para onde está indo. Dito de outra forma, a singularidade não deve ser procurada apenas na existência, mas também e principalmente no potencial (Sanford, 2016).
Referências
Ben Haggard. Reaching for Regeneration. Alliance for Sustainable Colorado, 2017.
Carol Sanford. First Principles of Regeneration. Business Second Opinion Podcast, 2018.
Carol Sanford. What Is Regeneration? – Singularity. Carol Sanford Institute, 2016.
Pamela Mang, Ben Haggard e Regenesis Group. Regenerative Development and Design: A Framework for Evolving Sustainability. Wiley, 2016.
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