A crise múltipla que estamos vivendo não vai a lugar algum tão cedo. O efeito dominó está em seu início e a crise econômica e política ainda vai se agravar bastante.
Quando a pandemia de Covid-19 começar a parecer algo do passado, estaremos perto de um próximo choque “inesperado”.
Eu gostaria de parecer otimista — de fato, me considero um — mas o otimismo cego nos mata de fome na fila do pão. Melhor o otimismo realista capaz de enxergar os sinais de um mundo desmantelado e ainda acreditar que podemos encontrar caminhos de resiliência e vitalidade.
As instituições nunca estiveram tão fragilizadas e a sombra de um estado-monstro se aproxima rapidamente. É hora de darmos um passo à frente e assumirmos a responsabilidade que o momento demanda.
Um caminho para a saída deste túnel sombrio é o da criatividade ativista, da construção de futuros desejáveis. Este é o papel do otimista-realista — entender e comunicar que novas possibilidades são urgentes e possíveis.
Podemos começar, então, nos perguntando: e se…?
E se pudéssemos nos relacionar de outra forma com as pessoas mais próximas de nós?
E se pudéssemos nos preparar coletivamente para os próximos espaços de disputa política e carregar conosco virtudes condizentes com as necessidades do nosso tempo?
E se pudéssemos alcançar a inteligência coletiva das comunidades online para sustentar a motivação e orientar os caminhos das comunidades locais?
E se pudéssemos criar redes de redes que se fortalecem e criam as condições necessárias para a evolução de todos os seus membros?
E se pudéssemos criar a cidade que queremos, aquela que visualizamos na nossa melhor visão?
E se pudéssemos ressignificar a terra e a propriedade e buscar meios alternativos de habitação e produção de alimentos?
E se pudéssemos criar a nossa própria economia local, com o nosso próprio dinheiro que incentiva valores e virtudes elevadas?
A boa notícia é que podemos.
O que precisamos é de otimistas-realistas loucos o suficiente para acreditar que é possível.
Foto: Sage Friedman