Uma ferramenta sistêmica para a mudança de ordem
O principal objetivo de atividades estruturadas é a mudança de ordem. Precisamos transformar algo simples em algo mais complexo e ordenado. Ao cozinhar transformamos alimentos não preparados em uma refeição. Ao tecer fazemos de fios tramas complexas e úteis. Atividades cognitivas seguem a mesma lógica: conferimos sentido à símbolos e transformamos percepções em aprendizados. Estas atividades são estruturadas. Elas possuem uma intenção clara e são organizadas para que uma mudança ocorra.
Acontece que geralmente lidamos com os nossos projetos, como empreender ou se formar, com pouca clareza e orientação. E isso é meio caminho andado para resultados abaixo da nossa expectativa.
Tomando como referência o trabalho sistêmico de Bennett percebemos que as atividades estruturadas são resultado do relacionamento entre quatro fontes. Estas fontes precisam ser compreendidas e harmonizadas para que a atividade tenha uma maior chance de alcançar a mudança de ordem que deseja. Esta dinâmica foi organizada como uma ferramenta de avaliação e desenho de projetos: a tétrade.
Toda atividade emerge a partir de um fundamento. É crucial que a equipe compartilhe esta mesma base. Podemos nos perguntar: Qual potencial serve ou serviu como fonte de motivação inicial para se engajar nesta atividade? Temos as mesmas motivações e enxergamos os mesmos potenciais? A falta de um fundamento sólido é motivo para a dissolução de muitas equipes e projetos.
Depois é necessário definir objetivos condizentes com a visão destacada no ponto anterior. Este par fundamento-objetivo forma o eixo da motivação. Para que haja uma boa motivação é necessário uma correta tensão deste eixo. Assim, podemos pensá-lo como um elástico. Frouxo demais, com objetivos fracos e não aspiracionais, há uma baixa na motivação. Tensionado demais, com objetivos impossíveis e idealizados, o eixo se rompe. O desafio é alcançar a tensão correta: um destino inspirador o suficiente para manter as pessoas animadas e palpável o bastante para que se continue caminhando diante os desafios.
Outro ponto crucial é o instrumento. Quais recursos, habilidades, práticas e conhecimento será necessário para realizar a transformação desejada? Quais instrumentos são capazes de manter a integridade do fundamento e alcançar os objetivos? Quem e o que será necessário nesta jornada? Quem e o que devemos deixar para trás?
Por fim, o quarto ponto da tétrade é o da direção. Junto com o instrumento forma o eixo dos meios ou o eixo operacional. A direção talvez seja o ponto mais incompreendido e negligenciado, fato curioso por ser talvez o mais importante. Esta é a estrela guia que irá orientar e reorientar a atividade em relação aos seus ideais e objetivos. É, também, a referência de qualidade e de aderência a princípios éticos. É o que garantirá que o projeto alcance os seus objetivos sem que haja desvios no caminho.
Além dos dois eixos principais, motivação e meios, podemos inferir outras conexões importantes. Olhando para a conexão fundamento-direção olhamos para a governança. Ao tratar da relação objetivo-instrumento tratamos da integridade da atividade. Fundamento-instrumento nos diz sobre habilidades. Objetivo-direção sobre entendimento e direção-instrumento sobre a operação. Estas relações secundárias são leituras avançadas da tétrade.
Assim, temos que este quadro conceitual dinâmico e sistêmico serve como uma poderosa ferramenta de avaliação e desenho de projetos. Podemos olhar para uma atividade passada e identificar qual ponto foi mais negligenciado e assim obter lições valiosas. Podemos utilizar a tétrade na mesa de projetos e garantir que todas as fontes sejam exploradas e validadas com a equipe. Com isso aumentamos não só o entendimento geral como também as chances de termos um projeto capaz de realizar a mudança de ordem que necessitamos.
Foto: Keith Hardy