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Ética regenerativa

Foto: Theo lonic

A pergunta que move o praticante regenerativo é: como me tornar recurso para o desenvolvimento da vida nessa situação?

A atuação do praticante nessa direção exige mais do que a intenção, embora ela seja o ponto de partida. Suspender o impulso de oferecer respostas e sustentar o olhar em busca de oportunidades genuínas de desenvolvimento é uma musculatura a ser construída com base em prática e repetição.

Nutrir um espaço fértil de desenvolvimento genuíno e realização de potencial pede que renunciemos a nossas expectativas e opiniões para ajudar o outro a enxergar novos potenciais por si mesmo e a fazer escolhas mais conectadas com seu papel e seu contexto.

Nessa prática, alguns pontos cegos precisam se tornar aparentes:

  1. nossas suposições, geralmente equivocadas;
  2. a influência que nossos estados de ser (estado mental e emocional) estão tendo na nossa receptividade ao outro e ao contexto;
  3. simpatias e antipatias com base nas afinidades que temos com determinadas abordagens;
  4. falta de humildade;
  5. o padrão mecânico e objetivista com que operamos na maior parte do tempo.

Há gestos que são bem vindos e outros que não são para uma interação construtiva, capaz de despertar a motivação das pessoas e revelar caminhos de evolução.

Um diálogo “regenerativo”, que gera um campo de alta vitalidade, não é sobre nós e na maioria das vezes nossas opiniões não são bem-vindas. Para descobrir o que é relevante para o desenvolvimento do outro — seja uma pessoa, grupo ou instituição — precisamos deslocar nossa atenção de nós para eles, mais especificamente para a sua interioridade e ambiência.

Uma imagem pode ajudar.

Quando queremos podar uma planta para favorecer a sua frutificação, consideramos onde estão os brotos emergentes e as condições do ambiente que os ajudarão a se desenvolver. Onde abrir espaço para entrar mais luz? Saímos totalmente de nós, mergulhamos no outro e no seu contexto, para descobrir por onde a vida quer seguir.

Com pessoas é da mesma forma. Onde está o potencial de germinação e frutificação? Como criar condições (em vez de “fazer acontecer”, forçar o nascimento…) para que esse impulso se desenvolva de forma autônoma? Quais elementos do contexto considerar e modular para que este ser encontre por si mesmo os caminhos de realização do seu potencial?

 

O primeiro módulo do Programa de Desenvolvimento do Profissional de Impacto é dedicado a isso: nos ajudar a nos tornar recursos a serviço do desenvolvimento da vida.

Vamos trabalhar frameworks e capacidades que nos ajudarão a gerar o estado de presença e consciência necessários para elevar a qualidade dos encontros, das nossas relações e da nossa atuação profissional.

Agosto a março no Círculo Regenerativo.

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Posted by Juliana Diniz in Texto rápido, 0 comments

Uma perspectiva particular de regeneração

Foto: Carlos Magno

O movimento regenerativo é um campo povoado por diferentes entendimentos, muitos deles associados a uma visão genérica de “um mundo mais ecológico”. O desenvolvimento regenerativo faz parte desse movimento mais amplo e contribui com ele oferecendo uma perspectiva particular de regeneração, partindo da premissa de que “o que faz algo regenerativo em seus efeitos é a aplicação de um pensamento regenerativo”.

Reunimos algumas ideias nesse pequeno texto para compartilhar com você algumas das particularidades do desenvolvimento regenerativo e do tipo de mudança que essa abordagem busca provocar.

Após décadas de estudo dos padrões que sustentam a vitalidade e a evolução dos sistemas vivos, e da observação desses mesmos padrões em territórios e comunidades, o grupo Regenesis propõe a seguinte definição:

Regeneração é a construção de relações sinérgicas entre sistemas humanos e naturais, através das quais os atores e iniciativas locais, a partir de seus papeis singulares, contribuem para a saúde, resiliência e evolução do seu lugar.

Regeneração não é, portanto, um novo nome para sustentabilidade, nem um rótulo para melhorias incrementais. Não se trata de “fazer o bem” ou gerar “impacto positivo”. A regeneração está relacionada à presença e recuperação da vida e da vitalidade de um sistema como um todo, e exige um compromisso com os processos sistêmicos e dinâmicos que acontecem ali. Continue reading →

Posted by Juliana Diniz in Texto rápido, 2 comments

Mercado Novo — Uma experiência de regeneração urbana em Belo Horizonte

Flávio Tavares

O Mercado Novo, localizado no centro de Belo Horizonte, tornou-se um exemplo vibrante de regeneração urbana e cultural. Originalmente concebido nos anos 1960 como um centro comercial, o espaço passou décadas subutilizado até que, nos últimos anos, um movimento espontâneo de empreendedores, artistas e coletivos começou a utilizá-lo com um novo propósito.

Antes de se tornar um atrativo turístico e polo de cultura, gastronomia e economia criativa, o Mercado Novo era um espaço pouco conhecido. Diferente do vizinho Mercado Central, que sempre manteve um fluxo intenso de visitantes e turistas, o edifício não alcançou inicialmente o protagonismo esperado. Durante décadas abrigou principalmente gráficas, papelarias e pequenas lojas de atacado, funcionando de maneira discreta, quase invisível na dinâmica urbana da cidade. O envelhecimento do prédio, os estandes vazios e a pouca movimentação fizeram com que ele passasse a ser visto como um espaço degradado.

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Entre o otimismo superficial e o realismo desanimador

Foto: Vincent Van Zalinge

Recentemente li um desabafo da Nora Bateson em que ela falava da “complexidade e enormidade do emaranhamento sistêmico das situações desta era”.

Na experiência dela, na minha, e imagino que na sua também, é difícil não ficar desmoralizado diante da obscuridade que se apresenta no mundo.

A sensação de estar sem saída e de não estar contribuindo de forma significativa e o desânimo por não ter perspectivas de futuro seguras e animadoras são recorrentes na experiência de quem busca viver e trabalhar com responsabilidade e sentido.

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Tornando-se recurso

Um dos grandes desafios que encontramos com o paradigma regenerativo é o de desenvolvermos a capacidade de sermos recurso para o desenvolvimento de pessoas, comunidades e organizações.

Apoiados no trabalho da Carol Sanford, entendemos que ser recurso demanda de nós presença, consciência, disciplina, abertura e profundidade.

Para sermos capazes de nos engajar em um diálogo desenvolvimental e construtivo precisamos estar conscientes do que é bem-vindo e do que não é bem-vindo nestas interações. Continue reading →

Posted by Felipe Tavares in Texto rápido, 0 comments

Permanência, longevidade e viabilidade

Sinergias entre o desenvolvimento regenerativo e os ensinamentos de E. F. Schumacher

Foto: Skylar Jean

“Sob um ponto de vista econômico, o conceito central da sabedoria é a permanência. Temos de estudar a economia da permanência. Nada faz sentido economicamente salvo se sua continuidade por longo tempo puder ser projetada sem incorrer em absurdos. Pode haver ‘crescimento’ rumo a um objetivo limitado, mas não pode haver crescimento ilimitado e generalizado.” — E. F. Schumacher

A preocupação com a longevidade dos empreendimentos humanos também está no cerne do desenvolvimento regenerativo, afinal regeneração é sobre aumentar o potencial ou recuperar a vitalidade perdida de um sistema vivo.

Ao liderarmos ou apoiarmos um projeto, a lente do desenvolvimento regenerativo sempre nos leva a perguntar:

Quais condições devemos criar no projeto, no lugar do projeto e nos atores envolvidos para que eles sigam se desenvolvendo e realizando novos potenciais mesmo após a nossa saída?

Que tipo de intervenção devemos fazer para que eles cresçam para além da nossa contribuição inicial? Continue reading →

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Regeneração: Um olhar vivo

Regeneração: Um olhar vivo

A mudança de concepção que o paradigma regenerativo propõe faz parte de uma antiga discussão na filosofia ocidental. 

Fritjof Capra descreve essa discussão como uma tensão entre substância e padrão, o que gerou duas linhas de investigação científica diferentes: o estudo da matéria e o estudo da forma

Segundo Capra (2016), o estudo da matéria começa com a pergunta “Do que é feito?” e leva a noções de elementos básicos e partes constitutivas, tendo como objetivo medir e quantificar. Já o estudo da forma pergunta “Qual é o padrão?” e aborda noções de ordem, organização e relacionamentos. Em vez de se concentrar em quantidade, o enfoque é na qualidade; em vez de medir, busca mapear.

Entender essa diferença é essencial para entender a proposta de valor do paradigma regenerativo. Enquanto sociedade contraímos a cegueira do reducionismo, o que nos fez focar demasiadamente nas partes e negligenciar as integralidades. Mas pessoas, organizações e cidades são sistemas integrais e se assemelham mais com sistemas vivos do que com máquinas, como nos fizeram acreditar. 

É importante, então, reconhecermos as limitações culturais que herdamos e nos colocarmos em um lugar proativo de descoberta e investigação para que possamos cultivar um olhar sistêmico e integral. E é esta a proposta do desenvolvimento regenerativo: nos afastar do pensamento reducionista e nos aproximar do pensamento sistêmico evolutivo.

Foto: Josh Sorenson

Referência: The Systems View of Life – A Unifying Vision (Capra e Luisi, 2016)

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Fenomenologia e Desenvolvimento Regenerativo

 

Na próxima segunda nos encontramos com a comunidade do Círculo Regenerativo para trabalhar a fenomenologia aplicada ao desenvolvimento territorial e à regeneração dos lugares.

Desde que conhecemos a abordagem do Desenvolvimento e Design Regenerativo percebemos — e nos foi dito — que ela tem um fundamento fenomenológico, embora essa relação não esteja totalmente explícita nos materiais e diálogos que já tivemos com o grupo Regenesis, os precursores da metodologia. Então, resolvemos nós destrinchar a conexão entre essas duas abordagens que nos parecem tão próximas e complementares. Neste encontro queremos compartilhar o que estamos descobrindo com essa pesquisa.

De antemão, podemos dizer que ambas compartilham de uma visão de mundo que tem na sua base o interesse genuíno pelo modo como se comportam fenômenos vivos. Do ponto de vista prático, ambas oferecem processos e métodos capazes de criar um processo consensual de design baseado em princípios de funcionamento da vida como os de holismo/integralidade, evolução/desenvolvimento, essência/singularidade, complexidade, emergência etc. Continue reading →

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Vamos praticar? (convite para ampliar a percepção)

Foto: Mauro Moura

No fim do último email que enviamos na newsletter havia um “convite para aumentar a percepção”. O texto do email abordava a relação entre saúde, liberdade e autoconsciência a partir da perspectiva antroposófica e fazia um convite para a tomada de consciência a respeito do que pode estar sendo dito por uma situação que nos toca e provoca.

Com esse email quero reforçar o convite feito e indicar alguns movimentos de um modo de observar fenomenologicamente eventos cotidianos. O que segue aqui é uma derivação para observar fenômenos humanos e sociais a partir da metodologia de observação de fenômenos naturais de Goethe. Continue reading →

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Saúde, liberdade e autoconsciência (e fenomenologia)

Foto: Ahmad Odeh

 

“A nossa mais elevada tarefa deve ser a de formar seres humanos livres que sejam capazes de, por si mesmos, encontrar propósito e direção para suas vidas.” — Rudolf Steiner

Essa é uma célebre frase de Rudolf Steiner que traduz sua filosofia da liberdade.

Para a Antroposofia, ciência espiritual iniciada por Steiner, é de extrema importância que os seres humanos se desenvolvam através da (e em direção à) liberdade, e que todo o processo de desenvolvimento humano facilitado pelos pais, educadores e demais profissionais da área contribua para isso.

Realizar um Eu livre no mundo significa experienciar o amadurecimento biológico, psicológico e espiritual sendo capaz de transformar os desafios biográficos de forma autêntica por um Eu que traz consigo uma vocação singular e se manifesta por meio da autoconsciência.

Nesse sentido, liberdade tem a ver com a atuação comprometida deste Eu na metaformose daquilo que constitui o indivíduo mas que, de alguma forma, impede a expressão autêntica da sua individualidade. Vamos aprofundar nisso. Continue reading →

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