O caminho das organizações regenerativas

O primeiro passo de uma organização regenerativa é assumir a responsabilidade pela mudança. Isso significa ir além da conformidade, ou seja, deixar de estar satisfeito por apenas cumprir as obrigações legais. Isso não é suficiente. 

A organização regenerativa está a serviço de algo maior do que  si mesma. Assim, ela sai da conformidade e vai para a autorresponsabilidade pois entende que deve desempenhar um papel ativo na regeneração local. Ela acredita, profundamente, que possui a obrigação de contribuir por um mundo mais íntegro. Essa é a sua maior preocupação.

Mas para que isso seja possível é necessário um segundo passo: sair do autocentramento em direção à participação apropriada. O autocentramento é responsável pela cegueira corporativa, é o que blinda a organização para a dura realidade do mundo além de suas portas. 

Uma organização que incorporou este princípio não mais define os seus objetivos olhando apenas para os indicadores internos. Agora, a organização entende que faz parte de uma teia viva. E o mais importante é participar de forma apropriada liderando o caminho da regeneração para os demais agentes que estão ao seu alcance.

A busca pela participação apropriada nos leva ao terceiro passo. Só é possível trabalhar em uma teia viva com responsabilidade e consciência quando caminhamos da fragmentação em direção à integralidade. A fragmentação é sintoma de uma mentalidade ultrapassada — a visão de mundo reducionista-cartesiana. Esta não é suficiente para lidar com as questões complexas da vida. 

A integralidade faz as pazes com a complexidade. E operar a partir deste princípio faz com que estejamos atentos aos efeitos sistêmicos de nossa atividade — passo crucial para nos tornarmos catalisadores da saúde planetária.

Outra mudança necessária nesta jornada é ir da reparação para a co-evolução. Nos acostumamos a resolver problemas, mas o foco na resolução de problemas nos prende ao velho enquanto o foco no potencial nos leva a novos patamares de possibilidades e motivação. 

Para participarmos de forma apropriada em um contexto vivo e complexo precisamos buscar uma compreensão integral do sistema socioecológico do qual fazemos parte. Só assim é possível nos engajar em um processo de co-evolução, ou seja, trabalhar por um desenvolvimento que promova a evolução das pessoas e da ecologia local juntos, sem concessões. Interiorizar a co-evolução é reconhecer que nós somos a natureza e que a nossa evolução depende da evolução dos sistemas naturais e vice-versa.

Por fim, a regeneração sistêmica só é possível quando aprendemos a trabalhar em cooperação. É preciso abandonar o hábito do não-envolvimento que possui origem no paradigma da dominação e competição e incorporar a cooperação como uma abordagem essencial à co-evolução. 

Organizações regenerativas são catalisadoras de redes de cooperação para a regeneração local. São organizações que inspiram outras organizações e pessoas a trabalharem por um propósito comum maior do que elas todas: um mundo viável, belo e justo.

Em síntese:

  • Da conformidade para a autorresponsabilidade;
  • Do auto-centramento para a participação apropriada;
  • Da fragmentação para a integralidade;
  • Da reparação para a co-evolução;
  • Do não-envolvimento à cooperação.

Foto: Aleksandr Kozlovskii

Posted by Felipe Tavares

Trabalho para conciliar o desenvolvimento social com a inteligência dos sistemas vivos. Acredito que a sustentabilidade começa com uma mudança de pensamento e não de técnicas.

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Felipe Tavares

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